Cara Emília Miranda
Este é o segundo bilhete. Outra pétala de poesia a enfeitar a ponte entre continentes. Desta feita escolho um brasileiro. Penso que essas brincadeiras de natal são formas de estabelecer e estreitar laços. Dito isso a escolha é óbvia:
TECENDO A MANHÃ
João Cabral de Melo Neto
Um galo sozinho não tece uma manhã.
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
sábado, 28 de novembro de 2009
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